Gordura no Fígado: sintoma, causas e tratamento

Isabelle Macedo Cabral

Gordura no Fígado: sintoma, causas e tratamento

Um em cada três adultos no Brasil convive com um problema de saúde frequentemente assintomático, descoberto muitas vezes por acaso em exames de rotina: o acúmulo anormal de gordura nas células do fígado. 

A condição, conhecida como esteatose hepática ou popularmente “gordura no fígado”, atinge aproximadamente 30% da população brasileira, com maior prevalência entre mulheres, segundo estimativas do Ministério da Saúde. 

O dado mais alarmante é que cerca de metade desses casos pode evoluir para formas mais graves, como hepatite gordurosa, cirrose e até câncer de fígado. 

O fígado, órgão marrom-avermelhado localizado no lado direito do abdômen, executa mais de 500 funções vitais para o organismo, incluindo metabolização de nutrientes, desintoxicação e produção de proteínas essenciais. 

O Que é Exatamente a Gordura no Fígado? 

A esteatose hepática ocorre quando há acúmulo excessivo de ácidos graxos e triglicerídeos dentro das células hepáticas. Trata-se de uma alteração metabólica que pode ser desencadeada por múltiplos fatores. 

A doença se divide em dois tipos principais: 

  • Doença Gordurosa Alcoólica do Fígado: Causada diretamente pelo consumo excessivo e crônico de álcool 
  • Doença Gordurosa Não Alcoólica do Fígado: Quando não há relação significativa com ingestão alcoólica, estando ligada a outros distúrbios metabólicos 

Principais Causas e Fatores de Risco 

Embora as causas exatas ainda não estejam completamente elucidadas pela ciência, diversos elementos contribuem para o desenvolvimento da esteatose: 

  • Obesidade: Pessoas acima do peso apresentam maior quantidade de gordura corporal, o que leva à resistência à insulina e alterações metabólicas que sobrecarregam o fígado 
  • Má alimentação: Dieta rica em alimentos processados, gorduras saturadas, carboidratos refinados e açúcares 
  • Sedentarismo: A falta de atividade física desacelera o metabolismo, impedindo que a gordura seja adequadamente convertida em energia 
  • Consumo excessivo de álcool: A metabolização do álcool pelo fígado gera compostos que promovem o acúmulo de gordura 
  • Condições associadas: Diabetes, colesterol alto, hepatites virais, doenças autoimunes e sobrecarga de ferro 

Sinais e Sintomas 

Na maioria dos casos, a gordura no fígado não apresenta sintomas claros nos estágios iniciais, sendo frequentemente descoberta durante exames de rotina realizados por outros motivos. 

Conforme a doença progride, podem surgir: 

Sintomas Iniciais a Moderados 

  • Cansaço excessivo e fadiga persistente 
  • Dor ou desconforto no lado superior direito do abdômen 
  • Perda de apetite 
  • Mal-estar geral 

Sintomas em Estágios Avançados 

  • Icterícia: Amarelecimento da pele e da parte branca dos olhos 
  • Coceira intensa na pele 
  • Inchaço abdominal (ascite) e nas pernas (edema) 
  • Fezes esbranquiçadas 
  • Perda de peso inexplicável 

A evolução para cirrose (o estágio mais grave) pode incluir complicações como varizes esofágicas, confusão mental e falência hepática. 

Diagnóstico e Classificação 

A suspeita clínica geralmente surge em exames de rotina que mostram aumento das enzimas hepáticas (TGO e TGP). O ultrassom abdominal é o método mais comum para visualizar o acúmulo de gordura no fígado. 

Em alguns casos, pode ser necessária uma biópsia hepática para avaliar o grau de inflamação e fibrose. A doença é classificada em três graus conforme a quantidade de gordura acumulada: 

  • Grau 1 (Leve): Pequeno acúmulo de gordura 
  • Grau 2 (Moderado): Acúmulo moderado 
  • Grau 3 (Avançado): Grande acúmulo de gordura 

Tratamento: A Reversão é Possível 

A boa notícia é que a esteatose hepática é reversível na maioria dos casos, especialmente quando diagnosticada precocemente. Não existe medicamento específico para a condição, mas mudanças no estilo de vida são fundamentais.  

A abordagem nutricional visa aumentar o consumo de verduras, legumes, frutas, grãos integrais, peixes (especialmente salmão e sardinha), carnes magras, ovos, azeite extravirgem, abacate e oleaginosas. Além de diminuir ou evitar açúcares, carboidratos refinados, gorduras saturadas (presentes em queijos amarelos, embutidos, manteiga, frituras), alimentos ultraprocessados e bebidas alcoólicas 

Além disso, é indicado a pratica regular de atividades físicas e acompanhamento médico. Em alguns casos, podem ser prescritos medicamentos para condições associadas: 

  • Sensibilizadores de insulina (como metformina) 
  • Antioxidantes (vitamina E) 
  • Hipolipemiantes (estatinas) para controle do colesterol 
  • Imunomoduladores (ácido ursodeoxicólico) 

Nos casos mais graves de obesidade, pode ser considerada a cirurgia bariátrica, e em situações de cirrose descompensada, o transplante hepático. 

Chás com Potencial Benefício Hepático 

Algumas plantas medicinais podem oferecer suporte ao tratamento, sempre com orientação profissional: 

  • Chá verde: Rico em polifenóis e catequinas com ação antioxidante e anti-inflamatória 
  • Cardo mariano: Conhecido por suas propriedades regeneradoras das células hepáticas 
  • Boldo: Contém lactona que auxilia na digestão de gorduras 
  • Hortelã: Estimula a produção de bile, essencial para a digestão 
  • Alcachofra: Contém cinarina, composto que ajuda na digestão de gorduras 

Prevenção: Como Proteger Seu Fígado 

A prevenção da esteatose hepática envolve estratégias que também beneficiam a saúde como um todo: 

  • Manter peso adequado através de alimentação balanceada 
  • Praticar atividade física regularmente 
  • Limitar ou evitar o consumo de álcool 
  • Controlar condições metabólicas como diabetes e dislipidemia 
  • Realizar check-ups médicos periódicos, especialmente se houver fatores de risco 

Quando Buscar Ajuda Médica 

Se você apresenta fatores de risco ou sintomas sugestivos, consulte um profissional de saúde. Diferentes especialistas podem ajudar: 

  • Clínico geral: Para avaliação inicial e encaminhamento 
  • Gastroenterologista: Especialista em doenças do trato digestivo 
  • Hepatologista: Especializado especificamente em doenças hepáticas 
  • Nutricionista: Para elaboração de plano alimentar adequado 
  • Educador físico: Para prescrição de exercícios seguros e eficazes 

A esteatose hepática representa um importante problema de saúde pública, mas com diagnóstico precoce e intervenções adequadas no estilo de vida, é possível controlar e até reverter completamente a condição. 

A saúde do fígado é reflexo direto de nossas escolhas diárias — alimentação balanceada, atividade física regular e moderação no consumo de álcool são os pilares para mantê-lo funcionando adequadamente por toda a vida. 

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